segunda-feira, 27 de abril de 2015

Ana Kesselring em exposição imperdível no dconcept escritório de arte


 “CORPS DU MONDE | CORPOS DO MUNDO”
exposição individual de Ana Kesselring

Abertura, 6 de maio, quarta-feira, às 19h
Visitação: de 07 de maio a 07 de junho de 2015

CORPS DU MONDE | CORPOS DO MUNDO, é a primeira individual que a artista Ana Kesselring apresenta a partir de 6 de maio no dconcept escritório de arte.

Para conceber está exposição, Ana Kesselring, que reside em Lisboa, pesquisou, através do seu mestrado em Paris, as questões relativas ao corpo, onde concluiu que  todos os corpos estão intimamente ligados. Seus relevos de parede dão sequência ao trabalho que a artista vem desenvolvendo e que chama de “os corpos do mundo”, que segundo a curadora, Ligia Canongia, são “sobre as possibilidades de representação do corpo em sentido expandido, que não passa única e necessariamente pelo humano, embora sempre pelo orgânico. As peças expostas são magmas de fragmentos de corpos animais e vegetais, compostos após sua moldagem em cerâmica, sua coloração e esmaltagem, processo que inclui, portanto, a coisa viva e sua posterior fossilização” conta Canongia em texto de apresentação sobre a artista. A curadoria fica a cargo de Fabiana de Moraes.

Apaixonada pela técnica há bastante tempo, Ana Kesselring já havia realizado algumas peças em porcelana em Paris, que mostrou junto às suas gravuras – técnica a qual a artista se dedicou bastante, em exposições na Sycomoreart Galerie, atual White Project, por exemplo.

A REALIZAÇÃO:


A artista tira moldes de diversos elementos que, segundo ela, fazem parte da nossa vida cotidiana. Estas formas vão sendo agregadas e confundidas, criando complexas e poéticas sequências que formarão a obra “Le corps du monde/os corpos do mundo”. Os esmaltes usados são criados no próprio ateliê, segundo pesquisas da artista, que escolheu Lisboa para desenvolver este projeto, inspirada no ceramista português, Bordalo Pinheiro.

SOBRE A ARTISTA ANA KESSELRING

Graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, trabalhou como designer na sua empresa Caligrama. Durante os anos 95/2000 começou a formar-se em arquitetura e em pintura ao mesmo tempo; desistiu da arquitetura para concentrar-se na arte expondo no Centro Cultural Sao Paulo e no Centro Maria Antonia (ambas 2002). Mas quando ganhou a bolsa da Residência Cité des Arts, em Paris, pela FAAP, a orientação de seu trabalho deu uma guinada. "Paris me marcou para sempre, a obra e a pessoa; nunca pensei ter acesso a dados de história da arte e a tanta informação, e as exposições que vi durante os oito anos que lá residi", conta Ana e completa: "As questões ligadas à natureza me chamaram atenção em várias exposições e museus locais, assim como a obra da artista Kiki Smith, que lida com o corpo, e os animais e sobre a qual desenvolvi o mestrado na Université Paris 8”, diz a artista.

SERVIÇO:
“CORPS DU MONDE | CORPOS DO MUNDO”
exposição individual de Ana Kesselring
Curadoria: Fabiana de Moraes
Texto apresentação: Ligia Canongia
Abertura: 6 de maio, quarta-feira, às 19h
Visitação: de 07 de maio a 07 de junho de 2015
Local: dconcept escritório de arte | Al Lorena 1257 G1/C3
01424-001 Jardins | São Paulo | SP
t. 3085 5006 | www.dconcept.com
De segunda a sexta das 14h às 19h | Sábados das 11h às 15h | Entrada Franca
Assessoria de Imprensa: Solange Viana | t. (11) 4777.0234 | solange.viana@uol.com.br | HTTP://solangeviana.blogspot.com


Leia abaixo texto de apresentação da curadora Ligia Canongia

Ana Kesselring – Corpos estranhos
                                               
Os relevos de parede de Ana Kesselring dão sequência à pesquisa da artista sobre o que ela chama de “os corpos do mundo”, sobre as possibilidades de representação do corpo em sentido expandido, que não passa única e necessariamente pelo humano, embora sempre pelo orgânico. As peças expostas são magmas de fragmentos de corpos animais e vegetais, compostos após sua moldagem em cerâmica, sua coloração e esmaltagem, processo que inclui, portanto, a coisa viva e sua posterior fossilização.
Esse assemblage de moldagens, em que se sobressai o contato manual da artista com seus meios, remonta à linhagem moderna de Miró, Henry Moore, Noguchi e Gaudí, que se firmou pela busca das origens e do estado bruto das coisas, assim como das relações humanas diretas com a natureza e com o mundo do trabalho. Uma pulsão expressionista é latente na obra, não só pelas feições informes das colagens e pela diluição de suas figuras em um amálgama abstrato, como por criticar, consequentemente, a visada racionalista de certas vanguardas.
O acúmulo e a justaposição de elementos orgânicos fortuitos parecem nos falar de uma construção de urgência, pulsional, ligada ao inconsciente e às associações livres, que retiram da realidade e das coisas mais tangíveis uma forma inédita e desconhecida. Entendidas como uma arqueologia do cotidiano, as colagens da artista tratam da simultânea apropriação e desconstrução do real, tomando seus corpos como “pré-textos” para a formulação de um novo discurso, inscrito no campo aberto da linguagem.
A transfiguração dos seres reais nas agregações obscuras e ambivalentes de Ana Kesselring - ao mesmo tempo, naturais e artificiais, familiares e bizarras, rígidas e sensuais - atesta não somente o estranhamento produzido pela troca de seus contextos lógicos, como, principalmente, pela capacidade poética de fazer a realidade delirar e sair de sua estratificação normal. O que antes eram simples vegetais, frutas, mariscos ou conchas, ganha excentricidade e se envolve em uma atmosfera absurda, comparável à das figuras espantosas de Arcimboldo ou às deformações surreais.
Pensadores admiráveis, como Benjamin e Ernst Bloch já haviam detectado nos processos subjetivos da fantasia expressionista e surreal algo conectado a uma nova concepção do tempo histórico, aos fenômenos de transição que caracterizam uma realidade multi-estratificada e plural. Para Bloch, “a obra expressionista é uma consciência cindida que encontra seu todo nos fragmentos da realidade vivida” 1, e tal afirmação pode nos levar aos amálgamas de Ana Kesselring, por corresponderem à essa procura de totalidade e de unicidade perdidas, em meio aos pedaços da experiência contemporânea.
O aspecto expressivo e a sensualidade dos relevos da artista, contudo, são submetidos a um corte abrupto em suas superfícies. A mão que molda a cerâmica é, paradoxalmente, a mesma que faz incidir esse corte preciso sobre sua extensão. Partidos, mas organizados por um traçado horizontal, sugerido na montagem das obras e coincidente com a linha dos cortes, os relevos entram numa tensão espacial que não apenas contrapõe à sua configuração turbulenta uma ordem inesperada, como conduz, pela horizontalidade, à ideia de possíveis paisagens.
Paisagens que se confundem com naturezas-mortas, estados morfológicos intermediários que rompem os gêneros da tradição, reviramento dos arquétipos figurais da realidade em um universo imaginário e improvável, tal é o mundo de Ana Kesselring, um mundo povoado de seres transversais e de estruturas ambíguas, que moldam e cortam nosso próprio olhar. 

JORDÃO MACHADO, Carlos Eduardo – in “Um capítulo da história da modernidade estética: debate sobre o expressionismo”, UNESP, São Paulo, 1998. 

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